Alguém já imaginou construir um castelo no meio do nada, no alto de uma serra, em pleno sertão nordestino?
Pois bem, se a resposta for que isso é coisa de maluco, José Antônio Barreto, 77 anos, o Zé do Monte, como é mais conhecido, achou que não e construiu. Para ele, não é coisa de maluco, mas resultado de uma visão que teve ainda adolescente. Ou seria um sonho?
O Castelo do Zé do Monte como é mais conhecido está fincado sobre rochas na Serra da Tapuia, a 8 km da sede do município de Sitio Novo, distante 114 km de Natal, e já se tornou atração turística da região.
O que mais chama a atenção nessa obra criada pela cabeça de um homem simples do sertão nordestino é como uma pessoa solitária teve a idéia de construir um castelo e conseguiu levar adiante o seu sonho com poucos recursos, a não ser o dinheiri da sua aposentadoria.
O Castelo do Zé do Monte se destaca em meio a caatinga com suas torres pintadas de branco. São cerca de 100 pequenas torres espalhadas pelo castelo.
“Construir com os meus recursos e não fiquei devendo nada para ninguém”, diz Zé do Monte, orgulhoso de não ter necessitado pedir dinheiro emprestado a ninguém, muito menos recorrido a algum empréstimo bancário.
Mistérios do Zé
“Aqui tem tantos mistérios, a maior verdade pode se transformar na maior mentira”, diz o enigmático José Antônio, o Zé do Monte, uma espécie de Antônio Conselheiros, o fundador do Arraial de Canudos, no sertão da Bahia, que em 1897 foi arrasada pelo exército da República, na Guerra de Canudos.Antônio Conselheiros foi chamado de louco, revolucionário, monarquista e fanático religioso.
Militar reformado do Exército, Zé do Monte mora em Natal, no bairro das Quintas, onde também construiu um pequeno castelo. Ele se divide entre os dois castelos, o do interior e o da capital.
Zé do Monte conta que em 13 de março de 1940, quando morava no Piauí, teve uma visão de Nossa Senhora, que pediu para ele construir 13 castelos.
Segundo Zé, o primeiro castelo ele começou a construir ainda no Piauí, mas depois se mudou para o Rio Grande do Norte, deixando a obra inacabada.
Entrevistar Zé do Monte não é fácil, ele não gosta de dar detalhes de sua vida e muito menos sobre a visão que o levou a esta sua via crúcis de construir castelos.
Ele diz que construiu os outros castelos pelo interior do Rio Grande do Norte e Paraíba, mas um rapaz que ajuda Zé do Monte a manter o seu reinado de Sítio Novo, uma espécie de filho adotivo, conta que as obras na verdade ficaram inacabadas.
“Alguns castelo, ele só começou, o único que realmente foi concluído foi este de Sítio Novo”, diz Pedro, que toma conta do castelo.
O castelo pode ser visitado nos fim de semana mediante o pagamento de R$ 5,00. O garoto Maciel é o guia para a visita.
Ele mostra os labirintos do castelo e suas dependências, assim como os mirantes existentes que permitem ter uma visão da Serra da Tapuia e seu vale. Numa das torres existe uma espécie de capela com imagens de santos.
Uma casa dentro da outra
Próximo do castelo fica a casa de Zé do Monte, que ele ocupa quando vem para a Serra da Tapuia. Ele construiu sobre pedras também.O que chama a atenção dessa casa é que ao entrar pela porta da frente se descobre que Zé do Monte construiu uma casa dentro de outra. Ao redor da moradia existe um corredor interno e só depois se tem acesso a casa propriamente dita. São duas paredes paralelas.
Simples no seu interior, a casa tem dois quartos, sala, cozinha e banheiro, além de uma sacada externa de onde Zé do Monte pode apreciar sua obra.
No interior da casa, Zé do Monte guarda um caderno que ele diz ser o livro da "Providência", que um dia foi levado por um padre para ser analisado pelo Papa em Roma.
“Nem o Papa conseguiu decifrar os escritos desse livro”, conta o seu autor
Depois de alguma insistência desse repórter, Zé do Monte mostrou o livro.
O livro é um caderno com anotações e desenhos. Não se trata de nenhuma escrita antiga ou hieróglifo de civilizações egípcias, maias ou astecas.
Os sinais da escrita “hieroglifadas” de Zé do Monte são enigmáticas.
O construtor de castelos escreve através de desenhos, como balão, quadrado, círculos, traços e outros recursos como cruzes, pontos e grafismos.
Zé do Monte traduz seus hieróglifos com passagens religiosas, sempre citando coisas relacionadas aos montes.
Numa das folhas do seu livro, aparece um desenho de um monte com uma cruz no alto, um olho, uma nuvem de chuva e até um tapete voador.
Visite o Castelo do Zé do Monte, e se der sorte, você pode até encontrá-lo na entrada, debaixo de uma cobertura de coqueiros, onde fica a entrada para a visitação de sua obra prima.
Como já diz o adágio popular, “de médico e louco todos temos um pouco”. No caso de Zé do Monte, poderia se acrescentar que “de arquiteto e de engenheiro e também".
COMO CHEGAR AO CASTELO
Para se chegar a Sitio Novo, partindo de Natal, de carro, se pega a BR-101 até Parnamirim e siga a direita pela BR-406 em direção a Mossoró, passando por Macaíba até chegar na rotatória da BR-226, onde entra a esquerda no sentido de Currais Novos e Caicó. Antes de Tangará, entrar à direita na RN-093 para Sítio Novo.Na sede do município, seguir pela rua principal uns 500 metros e entrar à esquerda para pegar a entrada de acesso a Serra da Tapuia. A estrada de paralelepípedos segue entre o açude da cidade e sobe a serra.
No distrito da Serra da Tapuia, é só perguntar para os moradores que eles indicam a estrada que leva ao Castelo do Zé do Monte.
A Serra da Tapuia produz pinha e caju. Próximo ao castelo tem um restaurante simples onde é possível almoçar ou fazer um lanche.
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